Saiba o que é verdade e o que é mito na alimentação das pessoas com Síndrome de Down
Fábio Adiron
O “Papo com os Pais” é um encontro de pais, parentes, educadores, médicos e terapeutas ligados à Síndrome de Down ou à Inclusão. Nesses encontros são discutidos temas como Saúde, Educação, Comportamento, Trabalho e Legislação.
O tema do último encontro, realizado no dia 25 de junho foi “Alimentação e Complementação Vitamínica”, com o pediatra e geneticista Dr. Zan Mustacchi.
Saiba o que foi discutido no evento:
1. Sobre alimentação em geral: é saudável que as pessoas comam de tudo, mas sempre comam adequadamente de cada coisa. Qualquer tipo de gordura tem 9 calorias por grama. Todos os demais alimentos tem 4 calorias por grama. Nem a absorção de calorias nem a queima das mesmas têm um padrão igual para todas as pessoas (portanto, não acreditem naqueles reloginhos que dizem quantas calorias você perdeu na corrida…isso varia de pessoa para pessoa). As melhores gorduras, que afetam menos o sistema vascular, são as gorduras polinsaturadas.
2. Sobre vitaminas na alimentação: a melhor forma de ingerir vitaminas é através dos alimentos. As vitaminas ingeridas por alimentação não causam supervitaminose pois o próprio organismo se encarrega de eliminar os excessos. Já as vitaminas ingeridas por via medicamentosa precisam ser balanceadas por um médico para se evitar excessos.
3. Existem dois tipos de metabolização das vitaminas: existem as vitaminas lipossolúveis (A,D,E e K) e as vitaminas hidrossolúveis (todas as demais). O excesso de vitaminas é particularmente perigoso nas vitaminas lipossolúveis pois essas podem afetar diretamente o Sistema Nervoso Central. As vitaminas hidrossolúveis podem ser ingeridas à vontade, mesmo via medicamentosa.
4. A maturação dos ossos é produzida pela pele através do sol. A vitamina responsável por isso é a vitamina D. Quem toma sol diariamente não precisa de complemento vitamínico (e, como a maioria dos nossos filhos não consegue tomar sol todo dia, os médicos dão a vitamina adicional). Não adianta tomar Cálcio e Fosfato se não tiver quantidade suficiente de vitamina D.
5. A vitamina K (responsável pela coagulação do sangue) é produzida pelas bactérias e bacilos que temos na flora intestinal. O grande perigo do excesso de antibióticos é de eliminar todas essas bactérias e acabar com a produção de vitamina K.
6. Segundo Dr Zan, as pessoas com SD têm em comum apenas uma condição clínica que é a hipotonia. Quase todos os problemas (intestino preso, sinusite, otite repetitivas e mesmo a questão da fala) têm como fundamento a questão da hipotonia. Dessa forma, deve-se evitar que a alimentação seja um motivo a mais de exigência muscular.
6. O Dr Zan recomenda que as pessoas com síndrome de Down evitem (não é uma proibição) consumir tubérculos (batata, cenoura, beterraba, mandioca, etc). O motivo é que os tubérculos são ao mesmo tempo obstipantes (prendem o intestino) e são altamente calóricos. Como a maioria das pessoas com SD tende a processar mais as calorias (absorvem mais) e queimar menos, a ingestão de tubérculos pode gerar um aumento de peso desnecessário. Por outro lado, deve ser reforçada a ingestão de fibras.
7. Em compensação, as pessoas com síndrome de Down não precisam se preocupar muito com alimentos supostamente cancerígenos, pois produzem um elemento protetor próprio. Só são conhecidos seis casos de pessoas com SD que tiveram câncer no mundo !
8. Por que ele recomenda Ostra e Castanha do Pará? A ostra tem uma grande dosagem de Zinco e a castanha do Pará de Selênio. Esses dois minerais tem efeitos anti-oxidantes e também reforçam o sistema imunológico. E, como já foi citado acima, consumidos através de alimentos o corpo vai absorver aquilo que for necessário e eliminar o excesso (o que não acontece se o mesmo Zinco e Selênio forem tomados de forma medicamentosa).
9. Ele encerrou o papo dizendo que o que causa o melhor efeito na saúde das crianças ainda é uma estrutura familiar que lhes dê segurança e atenção.
10. Também recomendou a todos que tomem bastante água.
Sobre os temas polêmicos :
1. Complementos vitamínicos : segundo o Dr Zan, a fama dos suplementos alimentares vêm mais da mania americana de tornar famoso um caso que só foi relatado por uma pessoa num talk show. Não existe nenhum estudo sério que comprove tais resultados. Uma criança com alimentação balanceada e saudável não precisa de complementos. O único efeito que tem é diminuir a ansiedade dos pais, por isso, muitos que dizem que está tendo um resultado maravilhoso é porque deixaram de passar seu stress pessoal para os filhos e eles passaram a ter melhores desempenhos (e não por causa do complemento).
2. Da mesma forma, o Piracetam não tem nenhum estudo duplo-cego (aqueles que dois grupos tomam o medicamento sem saber quem está tomando o medicamento mesmo e quem está tomando placebo) que comprove a sua eficiência. Comentário meu: a própria UCB Pharma da Bélgica que produz o medicamento recomenda que não seja dado a pessoas com SD.
3. Outros comentários alimentares ele creditou mais a crendice e superstição popular e não devem ser levados em consideração.
Fábio Adiron é consultor e professor de marketing. Foi fundador e ex-presidente da Associação Mais 1. É membro da Comissão Executiva do Fórum Permanente de Educação Inclusiva e moderador do grupo de discussão sobre Síndrome de Down do Yahoo Grupos.